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Creio que pouca gente saiba que o imóvel hoje pomposamente apelidado "Beato Quarter" (a possidonice é superior às forças de muita gente) jamais serviu como residência, mas sim foi uma fábrica ou armazém da fábrica Nacional, situado ao lado do Convento do Beato, que também pertencia à Cerealis, empresa proprietária do convento. Este convento foi, após a extinção das ordens religiosas no início do século XIX, o Real Hospital Militar, e após um grande incêndio (sempre os malvados incêndios) foi adquirido por João de Brito, um industrial que instalou uma fábrica de moagem de cereais, panificação e malte, sendo também utilizado como armazém de vinhos. Já no século XX, o espaço foi utilizado para eventos de cariz cultural e social. Foi alvo de novo incêndio em 2004 (voilà), que destruiu mais de metade do edifício, tendo sido reaberto ao público em 2005.

É, obviamente, importante valorizar e melhorar urbanisticamente Lisboa, com todas as consequências positivas que daí advenham, e o investimento no Beato é uma aposta inteligente e necessária numa área da cidade que estava muito degradada, e pouco atractiva, não obstante o seu passado histórico de eleição. De facto, a zona circundante, desde Xabregas até ao Beato, era o que se pode designar de arrabalde aristocrático, pois desde a dinastia de Avis, albergou um Paço Real, hoje a Casa Pia e a Igreja e Convento da Madre de Deus, fundado pela rainha D. Leonor, fundadora das misericórdias, actualmente museu Nacional do Azulejo. E, nesse alinhamento, uma profusão de conventos, palácios e igrejas, como o Convento de São Francisco de Xabregas, o Convento de S. Bento de Xabregas, o Palácio dos Marqueses de Olhão, a Igreja e antigo Convento do Grilo, o Palácio dos Marqueses de Nisa e o palácio dos Duques de Lafões.

Na minha singela opinião, o que se estranha é como é possível num país ciclicamente levado à bancarrota, onde a classe média é empobrecida, os empresários são perseguidos e esmagados com uma carga fiscal asfixiante com um sistema judicial a condizer, os Portugueses altamente qualificados são obrigados a emigrar para encontrar melhores condições de vida, pois nem ofertas profissionais conseguem encontrar à altura dos seus conhecimentos, muito menos habitação, e, no entanto, a classe política prospera… com remunerações superiores à qualificação de muitos dos seus elementos, quando muitos dos governantes são manifestamente incompetentes, e, casos há de serem grosseiramente incapazes para as funções que desempenham, ocupando-as simplesmente como "nomeação política". Acumulam, também, as regalias extraordinárias que dispara os seus rendimentos.

Estando o salário mínimo em Portugal na 12.º posição na tabela comparativa da União Europeia, segundo a análise do Eurostat, em apenas 22 Estados-membros, onde no Luxemburgo é de 2637.77 Euros, o mais elevado da União Europeia, e em Espanha é de 1323.00 Euros. Assim, não é de estranhar que os Portugueses questionem – e bem - como é possível um político, de quem não se conhece fortuna pessoal, por muito aforrador e investidor que seja, tenha a capacidade financeira para pagar a pronto, sem recorrer, como a esmagadora maioria dos Portugueses, a crédito bancário, uma casa milionária, e com isenção de impostos, e ainda conservar cerca de 781 mil Euros em contas bancárias, segundo o Sapo Executive.

De acordo com as informações veiculadas pelos órgãos de comunicação social o edifício está classificado como Património de Interesse Público, conforme o artigo 6.º, alínea g) do Código do IMT. Ora, tem direito ao Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas (IMT) quando "o imóvel seja para habitação própria permanente e o valor patrimonial tributário (VPT) ou o valor declarado na escritura não seja superior a 92.407 € (em Portugal Continental)", e tenha menos de 35 anos e que comprem a primeira habitação própria permanente.

Muito Eu gostaria de saber quando, e por que razões, recebeu este edifício, antigo armazém fabril, sem arquitectura ou história aparentemente relevantes, o "estatuto de interesse público", que poupou ao ministro 32 906 Euros.

A título de curiosidade, o projecto "Beato Quarter", é apoiado pelo Millennium bcp, com valores de venda entre os 600 mil Euros e o milhão e setecentos Euros (vide info), é apresentado como sendo dirigido ao "sector médio do mercado"; e, é assinado pelo arquitecto Tomás Salgado, do gabinete Risco

João Micael

Presidente da Matriz Portuguesa – Associação para o Desenvolvimento da Cultura e do Conhecimento

Director da Academia de Protocolo

Vários

"Exklusiva", Março 2025

João Micael
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